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valpizzani

Metaficção

Atualizado: 20 de mar. de 2023

Intertextualidade


Sobre o fenômeno da produção literária nos finais do século XX e início

deste século, em suas transformações e paradigmas, a reflexão da crítica Leyla

Perrone-Moysés, no ensaio “Metaficção e intertextualidade”, oferece

interessante percurso para compreender a manifestação estética na cultura

contemporânea e a reciclagem conceitual que impacta a literatura.

A literatura autorreflexiva e especialmente o conceito de metaliteratura –

que surgiu no final do século XX – tratam de uma língua que fala de outra

língua. Para a teórica canadense Linda Hutcheon, aplica-se às produções que

tecem comentários sobre “sua própria narrativa e/ou sobre sua identidade

linguística”.

Na reflexão de Perrone-Moisés, ainda que esteja presente ao longo da

produção literária desde Cervantes, a intertextualidade manifesta-se com mais

vigor a partir do final do século XX, o que coincide com uma renovada crise do

sujeito. Ou seja, o real deixa de ser a referência essencial para dar lugar a uma

produção que toma a própria literatura como objeto de leitura de mundo. Isso

se dá, agora, por um viés que tem a memória e seus modos sincrônicos de

apreensão como orientação.

O escritor catalão Enrique Vila-Matas é o exemplo eleito pela crítica para

analisar a metaliteratura na apropriação que ela faz, na atualidade, da

produção literária anterior. A abundância de referências ao passado tem como

ponto de partida o estatuto de leitor. Entre os inúmeros títulos do autor,

Bartleby e companhia é emblemático, segundo Perrone-Moisés. Ao misturar

ensaio e ficção, tomando a ilustre personagem de Melville e sua fórmula

“preferiria não”, Vila-Matas apresenta extenso cortejo de autores, reais e

fictícios, em seus questionamentos sobre o fazer literário e, tanta vez, da

impossibilidade que o acompanha.

“Já que todas as ilusões de uma totalidade representável estão perdidas,

é preciso reinventar nossos próprios modos de representação”, argumenta Vila

Matas, em citação mobilizada pela crítica. Da epifania à afonia, Vila-Matas

aponta o que nomeia decadência no entendimento da literatura. No entanto,

sua crítica é bem-humorada e não assinala o fim da literatura ou dos leitores.

No ensaio, a autora chama a atenção para a estratégia recente da

presença de autores, com o nome próprio, em obras ficcionais. Segundo, a ela

capacidade de “autoderivação” da literatura, no revirar continuado de autores,

obras ou autorreferências permitiria sua constante reinvenção e vida longa.


Referências

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Metaficção e intertextualidade. In: PERRONE-MOISÉS,

Leyla. Mutações da literatura no século XXI. São Paulo: Companhia das Letras,

2016. p. 113-124.


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